quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

1978-2013: 35 ANOS DA HISTÓRIA MODERNA DE SUPERMAN NOS CINEMAS
PARTE 4: O HOMEM DE AÇO, DE ZACK SNYDER, (2013): As sementes da origem da justiça.



Este é o último artigo sobre os filmes da criação máxima de Jerry Siegel e Joe Shuster nos cinemas. E é, também, o mais emocionante de escrever. Não é pouco o que se pode dizer sobre este filme, para o bem ou mal, gostando ou não, aprovando certas mudanças, sutis, na mitologia, ou não aprovando, este filme é gênese de um universo inteiro. E sua criação deve ser pontuada e contextualizada com quatro momentos históricos para os filmes de super-heróis.
O primeiro momento é Donner. Se Donner proclamou que filmes de super-heróis devem ser investimentos respeitáveis e levados à sério tanto na produção quanto no roteiro e na direção, devem ser vistos como joias, o caminho para se chegar a este filme nem sempre seguiu a orientação do mestre realizador do filme de 1978. Após Superman e Superman 2, a aventura contínua, a Warner resolveu mudar o direcionamento desses filmes, e então surgiram verdadeiras bijuterias: Superman 3 e 4, em busca da paz e Supergirl. Estes três filmes contavam com elencos estelares para a época, mas a Warner fez desserviço de estragar o caminho de Donner, e o resultado são três filmes que podem ser tomados como assombrações cinematográficas.
Apenas em 1989, e também com a Warner, mas não com o Superman, o gênero (ou sub-gênero) de filmes de super-heróis seria novamente levado à sério: os quatro filmes de Batman, dois de Burton e dois Schumacher, embora com propostas diferentes, mostram um novo fôlego para essas películas. Este é o segundo momento.
Em 2006 temos Singer com seu nostálgico Returns, e depois, para o Superman, o silêncio. E para os filmes de super-heróis mais amenos, a atrasada despedida.
Atrasada pois em 2005 o grande Christopher Nolan inicia sua trilogia com Batman e, com ela, marca o início de um terceiro momento da cinematografia de super-heróis . Assim como Donner fez com seu Superman, Begins é um ponta pé de uma nova maneira de ver os super-heróis: sombria, violenta, relacional (Nolan) ou realista (como ficou popularizado). Mas os méritos de Nolan vão mais além, ele colocou verdadeira nuance psicológica na maneira como se retratar um super-herói (isso nos cinemas, pois nos quadrinhos, Alan Moore, Frank Miller, Will Eisner ou Grant Morrison já faziam isso).
Não é mais possível, gostemos ou não de Nolan, se fazer filmes de super-heróis sem olharmos para a beleza e profundidade de um TDK, até Joss Whedon admitiu isso.
O quarto momento surge em 2008 com Homem de Ferro, do Marvel Studios. Outros personagens marvels já haviam aparecido antes, mas nenhum filme marcou nada de novo. Homem de Ferro inicia o que se viria a chamar de Universo Compartilhado e isso é novo. Pode não ser tão novo para o cinema, pois o Universal Studios já havia feito isso com seus monstros na década de 50. Mas para o gênero de super-heróis a novidade foi como uma bomba e hipnotizou uma legião gigantesca de fãs.
Hoje, então, temos dois momentos que caminham lado a lado. O que se iniciou com Nolan em 2005 e o que se iniciou com o Marvel Studios em 2008.
Pois bem, O Homem de Aço, de Snyder, de 2013, une o realismo de Nolan, com a missão de ser para o Universo Cinematográfico DC aquilo que O Homem de Ferro foi para o Universo Cinematográfico Marvel: o seu livro Gênesis.
E Snyder não polpou sua inspiração.
O filme começa em Krypton onde Lara está em trabalho de parto. Seu marido Jor-El é o parteiro. Já nesse início notamos a primeira diferença desse filme em relação aos atuais: a câmera tremida e desfocada, para insinuar realismo. Mas observem que esse efeito não um efeito que se completa em si mesmo, não é o efeito pelo efeito. Estamos num momento de nascimento de uma vida, e a câmera "realista", como em um documentário, capta o nascimento de uma criança. E isso ganha mais profundidade relacional quando ficamos sabemos, mais tarde, que esse nascimento é o primeiro nascimento natural em Krypton há séculos. Quando kal-El nasce, a natureza inteira brada nos confins kryptonianos. Essa abertura em krypton em sim mesma já é um filme a parte. É o mais eficiente prelúdio em filmes de super-heróis. E os efeitos especias dessa cena, aliados com a câmera de Snyder e seu olhar clínico para o momento exato do impacto, tornam esses 20 minutos iniciais uma pequena joia de um grandioso colar preciosíssimo. Nos momentos seguintes Jor-El está reunido com o conselho. Alerta sobre a iminente destruição do planeta. Zod chega de repente e proclama sua tomada de poder. A tentativa fracassa e os insurgentes são presos, julgados e condenados. Antes porém, Zod alerta Lara que vai encontrar Kal e exercer sua vingança. Momentos antes, ela e Jor-El haviam lançado o pequeno Kal em direção às estrelas. Após a cena da prisão na Zona Fantasma dos criminosos, Krypton explode. É notável a música nesse momento. A cena é de destruição mas a música é totalmente desfocada desse momento. Ela fala mais da tristeza de Lara do que da destruição planetária em si. Do desalento, da solidão, do nada da alma ante o acabar de tudo. É soberbo. Presenciamos a destruição de Krypton sentindo a tristeza de Lara. A abertura prossegue mostrando a nave de Kal nas estrelas. A música continua íntima e quase silenciosa, como a vastidão do espaço. Porém ela muda de tom e se acelera, à medida que se aproxima da Terra. O que acontece em seguida é um corte fantástico.
Antes do impacto da nave na terra, a cena corta para o tempo presente onde uma embarcação se choca com o mar. Clark é um dos marinheiros. Uma plataforma está em chamas e ele consegue salvar os petroleiros. Mas acaba submergindo no mar. Duas baleias são vistas próximo a ele. E já houve muitas explicações para isso. Pode ser um ester-egg para Aquaman.
Nesse ponto temos mais uma novidade snyderiana para esse filme. Flashbacks. Man of Steel não é um filme linear, e isso o diferencia novamente de seus companheiros de outros estúdios.
E nesse primeiro flashback temos mais acurada uma característica já presente desde a cena de abertura em Krypton: o intimismo. No prelúdio esse intimismo veio na música que ouvimos na destruição de Krypton, veio nos olhares de Lara para seu bebê. Agora temos a alma do pequeno Clark desvelada. Ele sofreu muito enquanto criança. Quando desperta, o adulto Clark está em uma praia, está chovendo e a câmera é aquela documental do início. Clark está molhado e consegue umas roupas secas numa casa próxima. O dono não ver ele pegando...
Veste as roupas e se dirige para a cidade. Ver um caminhão escolar e em flashback, acompanhado de música country bem suave, presenciamos o primeiro salvamento de Clark. O ônibus escolar em que estava cai de uma ponte para um rio e afunda. Clark salva a todos. Na sua casa, uma mãe fala para os Kent que Clark é um anjo. Jonathan Kent vai conversar com seu filho e diz que ele é de outro planeta. Clark chora. Cenas assim, nesse filme, conseguem mostrar um lado de Snyder não muito conhecido pelos seus outros filmes, mas que em O Homem de Aço é uma constante: a união, em um filme de super-herói do intimismo com a pancadaria. Intimismo, nas cenas de jonathan kent, nas cenas de Clark criança com sua mãe, nas cenas de Clark jovem, onde Cavill expressa facialmente o ponto exato do sentimento da cena, nos diálogos de pai e filho. Há dois filmes sendo contados em O Homem de Aço, o primeiro é um filme intimista, sensível e humano; o outro é um filme exterior de explosões e lutas. Snyder mostra seu talento em ambos os momentos.
Estas viagens de Clark são inspiradas em O Legado das Estrelas. Na cidade consegue arrumar emprego como garçom em um bar; é quando escuta conversas de militares sobre um estranho objeto no Polo Norte. Decide rumar para lá. Antes, um caminhoneiro quer brigar com ele, as expressões de Cavill são fortes e fazem com que sintamos junto com ele a necessidade de não reagir. Quando o caminhoneiro sai do bar, horas depois que Clark saiu, o seu caminhão está estacionado de forma fora do comum...
No gelo, Clark descobre uma nave kryptoniana e com ela sua origem. A repórter Lois Lane, do Planeta Diário, está cobrindo a descoberta. Porém, quando a repórter dispara um flash em um robô, este dispara um tiro laser na jornalista. Clark consegue impedir que o robô mate-a e cauteriza o ferimento. Antes disso, Clark aciona um comando na nave que libera projeções de seu pai biológico, ao mesmo tempo que envia uma onda eletromagnética para o espaço, que será captada por Zod e seus asseclas. Como é explicado mais tarde, a explosão de Krypton conseguiu libertar os criminosos da Zona Fantasma. Estes vagaram pelo espaço recolhendo armamentos, trajes e mesmo uma máquina planetária kryptonianos; quando captam o sinal da nave na Terra, decidem invadir o planeta.
No jornal Perry White decide não publicar a matéria de Lois sobre os acontecimentos alienígenas que ela presenciou. Mas Lois entrega o material para um blogueiro de fama duvidosa e vai procurar pelo alienígena, acabando por chegar em Smalvillle. Lá conhece a mãe adotiva de Clark e o próprio Clark enquanto visita o túmulo de Jonathan.
Clark fala que era desejo de seu pai que sua identidade só fosse revelada quando do momento adequado, pois a humanidade ainda não estava preparada para ele.
Aqui ocorre outro flashback. O mais comentado momento do filme e o mais controverso.
Clark e sua família estão em uma autoestrada quando um violento furacão se forma. Todos saem dos seus carros e se dirigem para um local seguro. Mas Jonathan volta para salvar o cachorro da família e acaba morto pelo furacão. Clark queria salvá-lo, mas a mão firme de Jonathan sinalizou que não. O filho obedeceu a vontade do pai.
Essa cena seria bem aceita caso Snyder resolvesse seguir o que todos pensavam que iria acontecer: a revelação do Superman diante de todos, salvando o pai. Mas Snyder optou por um anticlímax e fez o furacão varrer qualquer realização esperada de uma cena super-clichê. Essa é mais uma novidade de Snyder em O Homem de Aço, a busca para fugir de situações que se resolvam de forma "clichê". Essa cena é original e nunca mostrada em um filme de super-herói.
Snyder procurou um entendimento interior e filosófico para o momento. Fez Clark momentos antes dizer que Jonathan não era o seu pai. Para no momento seguinte mostrar o arrependimento de Clark de forma visceral, na mais completa obediência e respeito à figura paterna, mesmo que isso significasse a morte de seu pai. É um cena difícil. Mas filmes de super-heróis não precisam ser necessariamente fáceis.
A formação de Clark foi dura e difícil. É essencial que essa formação fosse mostrada dessa maneira. Snyder considera Clark um ser divino, como veremos mais tarde, mas também consegue enxergar que esse ser divino está entre humanos e portanto é capaz de sofrer como homem. Na verdade sofre como homem para aprender o significado do sofrimento humano. Isso é algo profundo. Sofrer para compreender e assim se identificar com o sentido do sofrimento alheio. Apenas uma figura na história humana fez isso. O personagem de Siegel e Shuster é claramente inspirado nele. E Snyder aprova integralmente essa identificação.
Na sequencia, Zod chega a Terra com um ultimato: quer que Kal-El se entregue ou a Terra será destruída.
Agora nós vemos um dos momentos mais belos do filme. E que não se encontra semelhante no atual panorama cinematográfico super-heroico. É uma cena intimista, como outras anteriores, mas diferente daquelas pois esta se passa no presente. E é uma cena inspirada em uma hq, nesse caso, Superman: Pelo Amanhã. Clark conversa com um padre. Após o ultimato de Zod, ele fica ainda mais pesaroso e decide procurar conforto espiritual. Na cena, atrás dele, vitrais com figuras de Jesus Cristo. Apenas com esse personagem histórico a criação de Siegel e Shuster pode ter completa identificação, talvez também com Moisés.
O padre aconselha-o a agir pela fé.
É uma cena corajosa. Mostrar um Superman fragilizado, humano e cheios de dúvidas, ter a coragem de mostrar um Superman em formação de maneira humana: com dúvidas, silente, angustiado, buscando até mesmo ajuda com padre! Esse momento é um diálogo sobre fé. E nada é mais humano do que a fé.
Essa identificação de Clark com Jesus também é positiva por outro motivo. Desta vez político. Mostrá-lo como uma espécie de judeu que não encontra pátria, é fugir dos que identificam o personagem como um representante do modo de vida americano, Cristo com certeza é mais universal.
Ele decide se entregar. Mas do modo dele e não seguindo a cartilha do governo EUA. Ele mesmo afirma que o temem pois sabem que não podem controlá-lo. Esse Superman de Snyder/Cavill está muito distante do bom escoteiro. Outro ponto para Snyder.
Na nave de Zod ele é submetido a testes juntamente com Lois.
Consegue se livrar, mas agora Zod está atacando com tudo o planeta: uma máquina planetária está terraformando a Terra. Transformando a atmosfera terrestre em kryptoniana.




Na Terra, Superman fala de seus planos para anular o efeito da máquina. Vai criar uma singularidade entre a máquina planetária que está sobre o Oceano Índico e o nave que tá sobre Metropolis. Agora esse filme mostra de forma mais vigorosa sua outra virtude: a pancadaria perfeita e a destruição gigantesca. Já tivemos um vislumbre disso em Krypton e em quando Smalville foi invadida por Zod. Mas agora é em Metropolis e o show de CGI é delirantemente arrasador. Se o inicio do filme pós-Krypton é intimista ao mostrar as angustias de Clark e sua família, o final é uma explosão de CGI avassaladora que é digna daquele outro Snyder, o porradeiro.
Kal consegue destruir os planos de Zod. E com o buraco negro criado, não apenas as gigantescas maquinarias kryptonianas foram sugadas mas também os asseclas do General.
Agora a batalha final é entre os dois kryptonianos.
As palavras de Zod para Kal, após as últimas esperanças de restabelecer Krypton serem frustradas, são paradigmáticas e mostram novamente uma grande virtude dos grandes filmes com personagens DC: o vilão. Hackman com Donner, Nicholson e Pfeiffer com Burton, Spacey com Singer, Neeson e Ledger com Nolan são exemplos de uma tradição vigorosa, a de grandes vilões. Shannon com Snyder não faz por menos.
As palavras e a interpretação delas por Shannon corporificam magistralmente Zod. Ele é um general. Qualquer coisa que faça, cada ato, não importa se bom ou se mau, é para o bem maior de Krypton. Para o bem maior de "meu povo"! E quando isso se vai, "A minha alma é o que você roubou de mim!" Afirma para Kal-El.
O embate é magnífico. É a melhor cena de luta em filmes recentes, e não apenas em filmes de super-heróis. A câmera de Snyder parece saber o momento certo para a tomada. Que diretor! Agora eles se prova, mais uma vez, um mestre para a imagem, é o Snyder de 300 ou de Watchmen, com sua agudeza plástica multiforme e caleidoscópica. É simplesmente O FINAL MAIS ÉPICO de todos.
E Snyder não tem piedade. Leva tudo às últimas consequências. Com esse final, mostrou que um filme de super-herói pode ir às últimas consequências na vontade verdadeira de sair do lugar-comum, de fugir do clichê: o assassinato de Zod nas mãos de Kal-El é a cena mais original em qualquer filme de super-herói em qualquer época e se torna mais tensa sobretudo porque o ato é feito diante de uma família aterrorizada. Nenhum filme de super-herói ousou ir tão longe.
Mas com um vilão construído da forma como Zod foi: inexorável, sem cerimônias e determinado, qualquer outro final seria duvidoso e tiraria muito mérito de Snyder. É preciso coragem para matar. Mais ainda, é preciso coragem para fazer o super-herói matar o vilão. E mais ainda, é preciso coragem ainda maior para fazer o super-herói matar o vilão diante de uma família aterrorizada pela luta entre os próprios super-herói e vilão.
E o Superman quebra om pescoço de Zod. E grita dolorosamente por isso. Salva uma família da destruição. E se destrói de sofrimento, ajoelhando ante os humanos presentes, incluindo Lois. É Cristo sofrendo as dores do mundo, as dores de um mundo cruel e sem misericórdia. Ele precisou passar por isso, e assim poder se tornar mais tarde o super-herói que sabemos que ele é. O primeiro e o maior.
No epílogo, que pelo clima se passa mais tarde, em um momento futuro, com Metropolis já, no mínimo, em fase de reconstrução, Clark é apresentado ao Planeta Diário. A música não consegue acompanhar os sorrisos que vemos. Assim como na cena de destruição de Krypton a música parece dizer outra coisa além da visão.
E nesse caso, devemos saber que os acontecimentos de O Homem de Aço vão repercutir. Os sorrisos são contidos. A música é quase um eco do silêncio. Impessoal. Fria. Soturna. Distante. Embora a cena seja de alegria. Não há festejo após a vitória do Superman.
Snyder construiu um filme que caminha entre o coração e a alma e o braço e o sangue. Ele não fez concessões gratuitas ao gosto já dantes estabelecido sobre como esse personagem deve se comportar. Verdadeiramente esse filme é um filme de origem. Snyder procurou construir Clark/Kal/Superman de forma crível, embora não habitual. Mostrou dessa forma como se faz um filme que joga com a emoção interior ao mesmo tempo em que detona diante de nós uma pancadaria de mestre. Do intimismo e realismo das cenas de infância, juventude e fase adulta de Clark aos diálogos dele com sua família e dos de Jor-El com Lara passando pelo retrato de Zod e pela morte de Jonathan até chegar nos escombros de Metropolis, esse filme merece ser amado por cada cena que foi filmada. Nenhum filme de super-herói possui cenas tão marcantes de ação quanto esse.
Nenhum filme de super-herói possui cenas tão íntimas quanto esse. Nenhum filme de super-herói fugiu tanto do clichê quanto esse.
No que tange aos aspecto dos intérpretes, o elenco está inspirado.
Henry Cavill, primeiro ele. Seu Superman não deve nada a nenhum outro. Fisicamente é o próprio. Dramaticamente consegue passar emoção, seja falando, seja calado, através da expressão facial certa, em todos os momentos. No diálogo com o pai, antes de sua morte no furacão, nem precisava tanta energia. Mas vale a pena ver. Quando fica calado e deixa o restante do corpo atuar, também é ator. Sua fisionomia na cena do bar com o caminhoneiro é convincente sem qualquer restrição. A cena na igreja é profunda. Cavill sabe trabalhar esses momentos. Superman não é um personagem simples. É complexo e difícil de ser trabalhado. Mostrar Kal-El com dúvidas existenciais é um elemento necessário nesse processo de criação para fazer a ligação com o nosso mundo e o nosso tempo.
A Lois Lane de Amy Adams não tem os histrionismos, comuns na época da de Margot Kinder, e por isso consegue passar verdade como uma jornalista de hoje.
Michael Shannon convence por tudo a respeito de seu Zod. Da vontade de selecionar suas falas e suas cenas e ver em separado.
Russel Crowe e Aylet Zurer são corretos como Jor-El e Lara.
Kevin Costner e Diane Lane, Jonathan e Marta Kent são os personagens mais interiores e intimistas da película. São as faces humanas que criaram e humanizaram Clark.
Lawrence Fishburne é um sólido e respeitável Perry White.
A bela Antje Traue é a parte feminina de Zod. Tão implacável e convincente quanto o General em seu retrato de Faora.
Por tudo isso Snyder está certo e de parabéns pelo bálsamo que foi O Homem de Aço. Bálsamo contra aqueles que querem ver o Último Filho de Krypton preso em amarras passadistas.



O Homem de Aço prova a validade do personagem para os dias de hoje. Obrigado Zack Snyder, seu Man of Steel é o maior filme se super-heróis do século XXI.
1978-2013: 35 ANOS DA HISTÓRIA MODERNA DE SUPERMAN NOS CINEMAS
PARTE 3: SUPERMAN, O RETORNO, DE BRYAN SINGER, (2006): Um espetacular crepúsculo que tomamos como aurora.


Quando sentei-me no cinema para assistir ao novo filme do Homem de Aço, em 2006, um desconhecido ao meu lado disse para mim: "esperei muitos anos por esse filme!". Fiquei entusiasmado pois também esperava a muito tempo por um Superman 5. Desde 1987, com o medonho Superman 4, que o Último Filho de Krypton estava ausente das telonas. Houve tentativas de recolocá-lo em exibição com o esquecido e não filmado Superman Flyby, de Tim Burton com Nicholas Cage, mas que graças a Deus não foi rodado. Apenas em 2006 teríamos um novo filme dele.
O diretor escolhido foi Bryan Singer. Este vinha de filmes bastante elogiados de super-heróis como o bom X-Men e o ótimo X-Men 2. Singer é um diretor interessante. Ele consegue enxergar nos super-heróis certos direcionamentos insuspeitos.
Para este Superman, o diretor optou por uma estética exemplar. Visualmente o filme combina art déco com telas de lcd e celulares, a faxada do Planeta é um grande, literalmente falando, exemplo da grandiosa inspiração de Singer, que preferiu manter os detalhes arquitetônicos dos anos 30, época da criação do mito, aliado aos novos produtos da moderna tecnologia. Isso foi bom? A melhor resposta é: isso foi bem feito. Combinar uma Metropolis antiga com uma nova é respeitar o passado sem esquecer o presente.
E seria bom que essa estética que alia dois mundo diferentes estivesse presente também no roteiro do filme. Mas não está.
Singer praticamente copia o Superman de Donner, muitas vezes cena após cena é reproduzida, com direitos até mesmo aos diálogos entre Jor-El e seu filho, o Jor-El de Brando.
Isso pode ser visto como falta de ousadia e é mesmo.
Superman, o retorno parece permanecer bastante confortável como uma esplendorosa homenagem ao filme de 1978. Nesse sentido o filme funciona. Está aqui a força de Singer. Seu filme é um verdadeiro fan service, tanto para os fãs da obra de Donner quanto para os fãs de Clark Kent nos quadrinhos.
Como dito acima, há uma intensa homenagem ao filme de 1978 nessa película. Mas há também uma homenagem aos quadrinhos.
Elas surgem em referências imagéticas ao longo da produção.
Há as capas de Action Comics #1, quando Superman salva um carro: ele ergue o veículo e o coloca novamente no chão na mesma posição icônica que Shuster desenhou na capa de 1938. Quando salva Kitty, a comparsa de Lex Luthor, um garoto consegue tirar uma foto, no Planeta Diário Perry White mostra o resultado: é a capa da edição de casamento de Clark e Lois, de 1996.
Por falar em casamento, este filme é sobre um super-herói, mas o diretor conta duas histórias aqui. A outra é uma história de amor.
E é essa história que Singer escolhe contar com mais intensidade. Parece que estamos vendo tudo pelos olhos apaixonados de Lois Lane. Até as cenas de voo são super... suaves. Superman não voa, paira com uma delicadeza assombrosa, como uma imagem sublime de um ser de luz, poderoso, mas que nem liga muito para esse detalhe. E por isso o filme não convence de todo.
Estamos falando do maior e mais poderoso super-herói de todos os tempos. E nesse filme, acreditem, ele beija a mocinha, tem filho, salva mulheres, combate assaltos, se não me engano salva até um gatinho de uma árvore, mas não disfere um único murro sequer, em ninguém. Parece inacreditável um filme assim sobre Kal-El. Mas existe.
É porque Singer prefere olhar para trás. Seu Superman é o personagem que ainda não saiu da era de Prata e que ainda guarda elementos da era de Ouro. Esse filme seria simplesmente perfeito na década de 80! Mas hoje, um personagem assim só agrada como saudosismo.
Quando Metropolis é destruída devido à criação do novo continente de Lex Luthor, feito com elementos oriundos da Fortaleza da Solidão, essa destruição é bastante pontual e Superman consegue salvar todos. Mas hoje ninguém consegue acreditar muito nisso. Novamente Singer parece que deseja se comunicar com aqueles que presenciaram a estreia do filme de 1978. Talvez pela comoção do 11 de setembro, ainda estava, mesmo cinco anos depois, bastante viva, ele tenha escolhido ser ameno na destruição. Mas o preço pago foi alto. Nós sentimos nessas cenas a brutalidade e o desejo de explodir contidos em prol da escolha estética do diretor. Não, ele não está errado. Só está trocando a época.
E nesse aspecto, esse filme parece um filme de super-herói de época.
Sobre o elenco.
Brandon Routh não faz mal como Clark Kent/Superman. Ele consegue caminhar bem entre os dois polos do personagem. Seu problema não é a atuação, é a aparência. Ele parece mais com Superboy do que com Superman. Tem rosto de garoto.
A Lois Lane de Kate Bosworth consegue extrair cenas críveis entre ela e Clark e no geral nunca está ruim. Eu gosto dos dois e, em um roteiro sem muita ousadia e bastante contido, diria mesmo recatado, esse casal faz o melhor que poderia ser feito.
Kevin Spacey vive Lex Luthor. Ele é mais cruel do que o de Hackman, porém menos cômico. Suas expressões corporais, diferentes dos contidos Clark e Lois, são mais dinâmicas e algumas vezes fazem lembrar o Lex de Donner/Hackman.
O filme começa com a música clássica de Williams. Na Terra, há cinco anos que o Superman desapareceu. Quando cientistas descobriram restos de Krypton, Superman resolveu partir para o espaço em busca de suas origens. Quando retorna, Lois está casada, com filho e Luthor saiu da cadeia e casou-se com uma bilionária, que para sorte do criminoso, morre e deixa-o como único herdeiro. Com a herança, Luthor vai ao Polo Norte, para a Fortaleza da Solidão. Lá rouba os cristais formadores e planeja construir um novo continente na Terra, destruindo boa parte do continente americano no processo.
A identificação religiosa em torno da figura do Homem de Aço está presente aqui também. Quando de sua ausência, Lois escreveu um artigo, "Por que o mundo não precisa de Superman", com o qual ganhou o Pulitzer, mas Superman lhe afirma que todos os dias escuta pessoas pedindo por salvação.
A cidade sofre um gigantesco blecaute, e ao investigar os motivos, Lois acaba presa por Lex Luthor juntamente com seu filho Jason. Em dado momento, Jason arremessa um piano sobre um dos capangas de Luthor, matando-o instantaneamente. O pai dessa criança não é o humano marido de Lois, Richard, como todos pensam...
Richard, o marido de Lois, com ajuda do Superman, conseguem salvar Lois e Jason - estavam presos em um iate em alto mar preste a ser destruído graças ao continente kryptoniano de Lex Luthor que emerge das profundezas do oceano.
Gradualmente a costa de Metropolis é tomada por violentos
tremores. Após conter a destruição, Superman ruma para o novo continente. Lá é recepcionado por Luthor, que o humilha, enfiando-lhe uma adaga de kryptonita e jogando o corpo em alto mar.
Agora é a vez de Lois e Jason, juntamente com Richard, retribuírem o salvamento. São os três que conseguem salvar Kal-El.
Este, novamente irradiado pelo sol e sem a kryptonita no corpo, Lois a retirou, consegue erguer a gigantesca massa de terra, mandando-a para os confins do espaço. Porém o esforço é demais até para ele, que cai no Central Park de Metropolis e é levado ao hospital.
Todos acreditam que está morto. Mas inexplicavelmente (ou pelo poder do amor de Lois e de Jason que o visitam), consegue se erguer novamente. Ao visitar a casa de Lois em segredo, ruma para o quarto de Jason, e repete as mesmas palavras que Jor-El havia lhe pronunciado sobre "o filho torna-se o pai, e o pai torna-se o filho". Quando sai, avista Lois, que olha para o mar bastante entristecida. Quando escuta Jason gritar "Tchau, Superman!", toma um susto e percebe a figura super-heroica que paira à sua frente.Ela pergunta se vai puder vê-lo mais vezes, e ele responde que sempre estará por aí.
O filme termina com cenas de voo de Superman ao som da música "Tema de Superman", de Williams.
Superman, o Retorno arrecadou bem ao redor do mundo. É a sexta maior bilheteria dos EUA em 2006 e a nona no mundo no mesmo período. A crítica em geral foi bastante positiva. Ora, para termos de comparação, fez mais do que Batman Begins, o primeiro Batman de Nolan, de 2005.


E é interessante as datas aproximadas dessas duas produções. O filme de Nolan inaugura, sem dúvida, um novo patamar e uma nova época para os filmes baseados em super-heróis, assim como inaugura uma maneira diferente, "realista", como muitos gostam de afirmar, de enxergar esses personagens. Nolan é o início de uma nova era.
O filme de Singer é a despedida de uma outra era. Uma era mais amena, despreocupada em relação a certos problemas existenciais. Returns não é um início. É o fim. O fim da era super-heroica conforme preconizada por Donner em seus filmes.
É uma homenagem que se desenha na despedida, olhando para trás e sorrindo. É um bom filme sim, mas não é um começo, é um fim. Um espetacular crepúsculo que tomamos como aurora.
Superman só iria ter um novo filme em 2013. E quando eu digo "novo", quero dizer em qualquer aspecto dessa palavra. E que filme!
1978-2013: 35 ANOS DA HISTÓRIA MODERNA DE SUPERMAN NOS CINEMAS.



PARTE 2: SUPERMAN 2, A AVENTURA CONTINUA, DE RICHARD DONNER, (1980); "God, no! Zod!"
Nos anos 80 tinha-se uma mania de, mesmo assistindo e voltando para assistir novamente uma continuação, sempre se dizia: "o primeiro é melhor!". A busca pela originalidade do produto, mesmo que impossível dentro de uma indústria cultural, permeava qualquer discurso sobre um filme original e sua continuação.
Bem, em se tratando dessa continuação, o ditado vale. O primeiro Superman é superior a este. E por várias razões.
Primeiro que houve a tão lamentada demissão de Donner. Cheio de contrariedades em relação às escolhas do casal Salkinde, os produtores do filmes, Donner acabou sendo demitido. Em seu lugar foi colocado Richard Lester. Lester refilmou várias cenas de Donner. Quando Donner foi desligado do filme cerca de 80% das cenas já haviam sido gravadas. Mas Donner havia inclusive filmado o final, que foi desconsiderado na edição final do filme.
De forma que Superman 2 ganhou o título de o filme mais editado da história.
Segundo, Marlon Brando não desejou participar da continuação, e nem permitiu que seu personagem Jor-El aparecesse mesmo em cenas já gravadas e que não fizeram parte da edição final do primeiro Superman, mas que poderiam ser usadas nesse segundo. Com esse problema em mãos Donner/Lester tiveram que substituir Joe-El, que aparece como holograma nos cristais da Fortaleza da Solidão, por imagens novas de Lara.
Terceiro, o roteiro em si. Há coisas que ocorrem no filme e que não há antecedente algum dentro do que foi visto até agora.
Novos poderes para Superman entre outros pequenos detalhes.
O filme se inicia da mesma forma que o primeiro, como uma leitura de uma edição de Action Comics. Estamos novamente em Krypton. a cena mostra melhor a rebelião de Zod, que apenas foi mencionada anteriormente. Ele é julgado conforme já vimos e aqui é mostrado novamente. Quando eles são jogados na Zona Fantasma, eles juram vingança contra a família El. No primeiro Superman, eles perdem perdão e choram.
A música desse início é a mesma de Williams, porém modificada em sua textura orquestral por Ken Thorne.
Na Terra, Clark está em ritmo cada vez mais acelerado de adaptação. Lois é mandada pelo Planeta para cobrir o sequestro de turistas na Torre Eifel por um grupo terrorista, esse grupo terrorista ainda ameaça também explodir a cidade com uma bomba H. O Superman consegue salvar a situação, arremessando a bomba para o espaço, onde explode. A explosão faz com que a Zona Fantasma se estilhasse e os kryptonianos, agora libertos, rumam em direção à Lua.
Quando pousam na Lua há uma equipe de astronautas americanos e russos que são mortos por Zod, Ursa e Nom. Eles então se dirigem para a Terra.
Quando na cidade de Houston, em uma área rural da cidade, causam grande tumulto, matando várias pessoas.
Nesse meio tempo vemos Clark e Lois no Niágara para cobrir uma investigação para o Planeta. Acontece aqui a famosa cena do garoto caindo nas cataratas e sendo salvo pelo Superman.
Lois começa a desconfiar de que Clark seja o super-herói que ela ama. Segura disso, salta para as correntezas do Niágara, mas Clark não se transforma em Superman e Lois é salva por um galho de árvore que discretamente Clark corta com sua visão de calor.
Aqui a coisa fica estranha. O egoísmo do Superman por sua adoração a Lois Lane o fez desobedecer aos pais e interferir no próprio curso do destino humano no primeiro filme. Agora esse mesmo personagem prefere manter sua identidade secreta à salvar imediatamente Lois lane, a quem ama.
Desajeitado que é, Clark acaba se descuidando e cai em uma lareira no quarto em que está com Lois, como não se queima, Lois volta a insistir que ele é o Superman. Desta vez ele não tem como negar e se revela para a amada jornalista. Clark a leva para a Fortaleza da Solidão, onde tem a primeira noite de amor.
Enquanto isso Zod e seu bando estão causando terror em Washington. Entram e destroem a Casa Branca, fazem o presidente americano se ajoelhar e se conclamam senhores da Terra. Quando o presidente americano se ajoelha, exclama "Oh, my God!", Zod é irônico e responde, "God, no! Zod!"
Após ir para a cama com Lois, Clark decide abandonar a proteção a Terra e se dedicar exclusivamente à vida marital com a mulher. É um desejo que compartilha com a mãe; esta lhe diz que só poderá viver como um deles se for um deles. Ele afirma que gostaria de perder seus poderes. Lara o coloca numa câmara e quando sai, está totalmente sem poderes. Humano.




Na volta para Metropolis o super casal passa por um bar e Clark é provocado por um caminhoneiro, sem poderes, apanha do mal-caráter e, quando está para ir embora, escuta a tv: Zod é o senhor do mundo e está desafiando o Superman para um duelo.
Arrependido de ter escolhido o amor por Lois ao invés da proteção do mundo, decide retornar, a pé, à Fortaleza da Solidão.
Luthor foge da cadeia e tenta um diálogo com Zod, na Casa Branca. Diz saber como fazer Superman aparecer, e Zod então invade o Planeta Diário em busca de Lois. A destruição é completa e Superman apenas aparece quando tudo já está em ruínas.
Ele conseguiu seus poderes de volta.
A batalha em Metropolis entre Superman e Zod é devastadora.
Eles conseguem destruir prédios, arremessando um e outro em direção aos mesmos, carros, hidrantes, lojas, bancas de jornal, o quarteirão inteiro é destruído e a luta toma conta dos ares. No plano aéreo a luta se intensifica, andares inteiros de edifícios são atravessados pelos kryptonianos ensandecidos. Para quem critica Snyder por cenas assim em Man of Steel, Superman 2 deveria não ser esquecido e sim rememorado. Superman não leva a luta para fora da cidade. Ao contrário, com um inimigo insano como Zod, não há como fazer isso. a luta arruína a cidade, para os padrões cinematográficos da época evidentemente. Mas é sim uma luta muito bem produzida e tão perfeita que permanece viva ainda hoje em plena época de cgi.
Superman foge. Em meio ao pânico de todos, que ficam estarrecidos com a situação, Zod grita ao fugitivo que da próxima vez matará o filho de Jor-El.
Zod retorna ao Planeta Diário e numa conversa com Lex Luthor fica sabendo para onde Superman deve ter ido.
Na Fortaleza da Solidão, os quatro vilões e Lois Lane, que foi levada, chegam e se surpreendem com o local, exceto Lois que já esteve lá.
Kal-El surge e Zod ordena que se ajoelhe. Lex Luthor vai conversar com o super-herói e fica sabendo que a câmara é perigosa para os kryptonianos, pode transformá-los em humanos. Zod força Kal-El a entrar na máquina e a liga. Uma intensa luz vermelha toma conta do local enquanto uma amarela é irradiada para o Superman dentro da câmara. De algum modo Kal-El inverteu as polaridades da máquina ao mesmo tempo em que fundiu sua tecnologia de raios vermelhos ao ambiente da Fortaleza, ou seja, em outras palavras, ele mentiu para Lex Luthor, a máquina agora amplia os poderes, enquanto a Forteleza, tomada por radiação solar vermelha, os retira.
Retirar os poderes de Zod seria a única maneira de fazê-lo parar, sem precisar matar. Sem poderes, Zod, Ursa e Nom são facilmente derrotados. Mas mesmo assim, sem poderes, são mortos por Superman e Lois Lane, que os arremessam em um abismo.
Após esse confronto, passamos para mais um dia no Planeta Diário. Clark beija Lois e o que se segue, é mais um exemplo de roteiro sem sentido. Após o beijo, Lois parece se esquecer de que Clark revelou para ela sua identidade secreta. Será mais um novo poder do Superman? Provocar amnésia com um beijo? Bem, essa cena sim é exemplo de coisas que nunca deveriam ter sido filmadas. Por que Lois Lane tem que se esquecer disso? E por que, pior ainda, com um beijo?
No entanto, esse filme se mantém pela atuação rica e perfeita de Christopher Reeves, Margot Kinder, Terence Stamp, Gene Hackman e Sarah Douglas (Superman/Clark, Lois Lane, General Zod, Lex Luthor e Ursa, respectivamente); pelos efeitos visuais e sonoros, usados com maestria na luta entre Superman e Zod; pelas tiradas convincentemente cômicas de Luthor. Ademais algumas estranhezas de roteiro, no geral o filme se sustenta também nesse ponto. Embora o primeiro seja melhor, esse também é sensacional, e seria o último filme de super-heróis realmente cativante até Batman, o filme, de Tim Burton em 1989. Assim como seria a último filme de excelência do Superman na década de 80. Os outros dois que vieram em 1983 e 1987 são aberrações cinematográficas vergonhosas, sendo que o 3 é pior do que 4.
1978-2013: 35 ANOS DA HISTÓRIA MODERNA DE SUPERMAN NOS CINEMAS.



Esse texto será o primeiro de quatro textos focando, cada um deles, um filme do Superman. Nesse primeiro, Superman, o filme, de Richard Donner, de 1978. Os próximos serão: Superman 2, a aventura continua, Superman: O Retorno e O Homem de Aço.
PARTE 1: SUPERMAN, O FILME, DE RICHARD DONNER (1978).
Quando esse filme foi lançado, filmes baseados em super-heróis não eram motivos para grande alarde. Na verdade, as matinês mostravam sempre filmes baseados em personagens de quadrinhos, não sendo invenção de estúdio moderno como alguns podem pensar. Todavia, eram filmes voltados para crianças e que pouco ou nada tinham que pudessem atrair pessoas mais velhas.
Superman foi um personagem criado em 1933 por Jerry Siegel e Joe Shuster e publicado pela primeira vez em Action Comics número 1, da National Periodics (mais tarde chamada de DC Comics). Seu sucesso foi estrondoso e nos anos seguintes invadiria todas as mídias da época: jornais, rádio, tv e cinema.
Mas o que diferenciou o filme de Donner, e fez o público mais atencioso para a sua produção foi uma soma de fatores que antes apenas era direcionado à outros tipos de filmes: primeiro,o investimento, cerca de U$ 55 milhões de dólares, um absurdo para a época, sobretudo se observamos que, em 1989, Burton filmou seu Batman com cerca de U$ 35 milhões de dólares (e já era considerado alto para qualquer gênero de filme); segundo, a escolha de atores, nada mais nada menos do que Gene Hackman e Marlon Brando integravam o elenco, e só a menção desses nomes já era um chamariz extraordinário para o sucesso do filme; terceiro, o cuidado com efeitos especias. É certo que Star Wars já havia aberto caminho nesse ponto, mas esse Superman foi premiado com o Oscar de Melhores Efeitos Especias.
Bem, e a história? Simplesmente é uma das mais cativantes idealizações do Superman em todos os tempos. O jovem Christopher Reeves encarna o Último Filho de Krypton com tanta naturalidade, que seu rosto viria a marcar para sempre a memória de quem falasse ou pensasse no super-herói.
O filme começa mostrando uma edição de Action Comics, numa especie de metalinguagem, o narrador nos fala, enquanto folheia e edição, que a cidade de Metropolis é guardada por um homem que é símbolo da verdade e da justiça, parecendo aquelas matinês infantis. Mas aí, entra uma música, um tema que se tornaria clássico e amado e reconhecido por qualquer um que já tenha assistido ao filme: O Superman Theme de John Williams, com certeza o mais famoso tema de super-herói de todos os tempos e mais conhecido do que os de Star Wars ou Indiana Jones. Ele começa com tremolos nas cordas e então aos poucos vão dando lugar em um crescendo aos metais, chefiados pelos trompetes. A música dura cinco minutos e enquanto isso, os créditos vão passando. Além do Tema do Superman, essa música também contém o Tema do Amor (ou de Lois Lane como queiram), mais suaves nas cordas e um arpeggio rápido nas madeiras, simbolizando a aventura. A música termina com uma fanfarra entoando o Tema do Superman.
Na primeira cena do filme, estamos em Krypton, planeta gélido onde os cidadãos se dividem em castas. Jor-El está diante do Conselho para que julguem, por rebelião, Zod, Ursa e Nom. Os três são condenados à zona fantasma. Na cena seguinte, ainda em Krypton, Jor-El adverte sobre a iminente destruição do planeta. Ninguém acredita. Ele então prepara uma nave que levará seu filho ao espaço. Lara, sua esposa, está desconsolada. Jor-El escolheu a Terra e, nesse planeta, Lara afirma que o filho será um homem ridicularizado e solitário e que viverá repleto de tristezas. Jor-El afirma que ele superará as dificuldades e mostrará aos humanos seu poder, pois o sol amarelo da Terra fortalecerá suas células e seu corpo. O planeta começa a tremer, o sol vermelho de Krypto se aproxima de sua atmosfera. O foguete é lançado e o pequeno Kal-El, esse filho brilhante das estrelas, navega pelo espaço enquanto pedaços da explosão de seu planeta são vistos.
Durante a viagem, Jor-El fala sobre ciência e história da Terra, citando até Einstein, para o pequeno e futuro maior super-herói de todos, mas que agora é apenas um bebê de pouco mais que três anos!
Essas cenas duram algo em torno de 20 minutos e o impacto da nave de Kal-El na Terra é observado pelos Kent que resolvem averiguar do que se trata e acabam encontrando o pequeno deus em sua manjedoura espacial, sorrindo como uma criança, que é, ao ver os pais.
As próximas cenas mostram Clark, nome que recebeu dos pais adotivos, em sua vida cotidiana. Na escola, é menosprezado pelos outros. Realmente ele se sente vazio, solitário e sem lugar entre os humanos. Sua desolação ele compartilha com o pai, Jonathan Kent. Está perdido no mundo e não sabe quem é. Seu pai afirma que deve haver um propósito em sua vinda e que ele deve esperar. Ao ver seu cão, o jovem Clark corre em sua direção e nesse momento, John tem um ataque cardíaco e morre. Durante o enterro, Clark desabafa para a mãe, Marha Kent, que mesmo sendo tão poderoso, não pôde salvar o próprio pai.
Os dias passam e a tristeza e desolação tomam conta da alma de Clark. Numa manhã, sem avisar a mãe, parti da fazenda. Quando Martha está pondo o café da manhã, nota o filho ao longe. A cena é triste. Ela vai em direção ao filho. Pergunta para onde ele vai e diz que isso um dia tinha que acontecer. Ele vai para o Polo Norte. Não é explicado no filme o motivo dele ir para esse local.
No Polo Norte, Clark arremessa uma lasca de minério kryptoniano que havia na fazenda e então, quando o solo absorve o cristal verde, surge uma gigantesca construção, ao estilo de Krypton. Ao entrar, Clark é saudado pelo holograma de Jor-El, que conta-lhe todo a sua origem. Ao término da fala de Jor-El, Clark já surge com a roupa de Superman, mais ou menos aos 47-48 minutos de filme. Ele alça voou enquanto o Tema de Superman ecoa.
Agora estamos em Metropolis, onde o pacato e tímido Clark Kent foi em busca de emprego no Planeta Diário. Graças à simpatia que Perry White, editor do jornal sente por ele, consegue o trabalho. Em seu primeiro dia de trabalho, Clark faz amizade com Lois e sai com ela. No caminho sofrem uma tentativa de assalto, que é frustrada por... Lois Lane, que consegue botar o meliante para correr. Este, porém, atira em direção a Lois, mas Clark fica no meio e consegue pegar a bala (numa cena que seria rememorada por Alan Moore em Watchmen # 12, 1987). Lois pergunta como ele fez isso. Clark diz que tem reflexos muito bons e que o assaltante nem iria ficar feliz com a bolsa de Lois, pois dentro só tem 10 dólares e maquiagem. Lois se assombra pois é exatamente o que há na bolsa dela...
Um homem é seguido por detetives. Trata-se de Otis, capanga de Lex Luthor. Este personagem foi criado especialmente para o filme, mas já apareceu nos quadrinhos. Nos Novos 52, foi morto por Bizarro a mando de Luthor em Vilania Eterna. Através de intrincadas passagens subterrâneas, esse bobo vilão chega ao seu destino. Ao encontrar Luthor este afirma: "Você foi seguido! Felizmente tenho minhas precauções!" Luthor instalou dezenas de câmeras filmadoras ao longo dos subterrâneos da cidade e monitora tudo. Além disso, colocou armadilhas em pontos estratégico. Uma delas faz com o detetive que havia seguido Otis, caia nas linhas do metrô, morrendo atropelado pela máquina. É a primeira morte trágica num filme e super-herói. No covil também está a Senhorita Teschmacher, típica mulher bonita, loira e com uma inteligência demente.
Lex tem um plano audacioso para conquistar o mundo: explodir a costa oeste americana.
Na redação do Planeta, Lois embarca em um helicóptero. Mas esse funciona irregularmente e fica pendendo do alto do Planeta Diário. Eis o primeiro salvamento de Superman para êxtase dos metropolitanos que nunca viram nada igual. As próximas cenas mostram Superman em vários salvamentos e missões: impedindo um assalto ao banco, salvando um gato de uma árvore, e salvando o avião Força Aérea 1, que leva o presidente dos EUA.
Até aqui, a personalidade de nosso super-herói variou bastante.
Primeiramente, ele era um jovem triste que não encontrava lugar no mundo. Também teve sempre que se conter e não usar sua força ou quaisquer de suas habilidades, isso a pedido do próprio pai, embora isso lhe causasse sempre grande humilhação, o que aumentava mais ainda seu desconforto entre as pessoas.
Esse lado introspectivo do personagem é mostrado em Smalville, em meio à chacotas e zombarias de outro rapazes. E de certa forma, esse lado introspectivo de Clark é continuado na timidez do jornalista, que se esconde das pessoas usando óculos, baixando o tom da voz, inclinando um pouco o peito para frente e falando sempre usando interjeições. Reeves é perfeito tanto como Clark quanto como Superman. Embora o jovem Clark seja interpretado por Jeff East, que consegue encontrar as expressões de melancolia e revolta para o personagem. Reeves aparece pela primeira vez quando Clark veste a roupa do Superman, na Fortaleza da Solidão. Clark passou três anos na Fortaleza aprendendo com Jor-El. E ao fim das aulas, Jor-El lhe presenteia com uma roupa kryptoniana, detalhe que John Byrne, em sua reformulação do personagem nos quadrinhos (Man os Steel # 1, 1986) não seguiu, preferindo fazer Superman vestir uma roupa feita com tecido terráqueo costurada por Martha Kent. Outro detalhe que é bom notar é a violência que surge de situações inesperadas, como a morte do detetive. Lex Luthor não está careca. Passa a maior parte do tempo com uma peruca ruiva.
O alvoroço toma conta de Metropolis. Todos querem saber quem é o estranho ser de roupa azul e capa vermelha. Quem consegue a primeira entrevista é Lois Lane. John Byrne nos quadrinhos pós-Crise, brinca com essa ideia fazendo Lois criar um ódio mortal por Clark, pois é justamente o jornalista tímido que publica primeiro uma entrevista com o Superman (Man of Steel # 2, 1986) e assim consegue seu emprego no maior jornal de Metropolis.
Na cena da entrevista entre Lois e Superman, há detalhes inusuais para um filme de super-heróis e que demonstram a preocupação do roteirista e do diretor em fazer algo que fosse entretenimento também para adultos. A entrevista é cheia de duplos sentidos eróticos, bem velados, mas às vezes nem tanto. Como quando Lois pergunta se é verdade que ele pode ver através das coisas. Ele responde que sim. Então Lois pergunta se ele pode ver a calcinha dela e se sim, diga a cor: "rosa". Lois pergunta, como uma típica jornalista (!) "Você gosta de rosa?" e Superman embarca na viagem de Lois: "Adoro rosa!". Mais surreal é o momento em que Lois pergunta o que ele gosta de comer, com uma expressão tal, que nem parece estar se referindo à comida...
Superman leva Lois para voar. A música, já ouvida durante a abertura, é o Tema do Amor.
Após esse momento idílico, recheado pelos pensamentos amorosos de Lois. Estamos no covil de Lex. Este, através de uma frequência especial, chamou Superman para uma conversa. Lex já sabe da fraqueza à kryptonita do super-herói e conseguiu encontrar pedaços do minério alienígena pesquisando em uma enciclopédia (que tempo bom!). Quando Kal-El chega, Lex lhe revela seu plano de conquista mundial e consegue surpreender Superman colocando em seu pescoço uma corrente de kryptonita. Sai, mas deixa a Senhorita Teschmaher na sala.
Esta sente compaixão por Superman, mas diz para ele que apenas tirará a corrente, se ele prometer salvar primeiro a cidade onde mora sua mãe; Luthor acionou dois mísseis nucleares, um em direção à Califórnia (onde se encontram Lois e Jimmy) outro em direção à Nova Jérsei (onde mora a mãe da vilã). Kal questiona a situação: "Mas Lois?" Porém a namorada de Luthor afirma; "Ou minha mãe primeiro ou você morre!" Superman promete de acordo com desejo dela e ela retira a corrente de seu pescoço, porém, antes de retirar, beija a boca de Kal. Este pergunta por que antes de retirar a corrente o beijou. A resposta: "Pois não sabia se você iria deixar depois..."
Superman detém primeiro o míssil de Nova Jérsei. Imediatamente parte para a Califórnia, mas o míssil explode antes. Um terremoto gigantesco assola o estado. Superman invade o subsolo da Terra fazendo as placas tectônicas se acalmarem; graças a sua super força ele segura a placas e impede a propagação do terremoto. Porém, na superfície já houve estragos demais: uma represa ruiu e está no caminho de uma cidade. Superman consegue parar o curso destruidor de água e salva também Jimmy Olsen. Mas não consegue salvar Lois.
Quando a encontra já é tarde. Desconsolado e irado alça voou, enquanto escuta seus pai biológico Jor-El lhe advertir que não interfira no destino do mundo. Ao mesmo tempo em que ouve Jonathan Kent lhe dando conselhos. Mas kal-El está desesperado, pois não conseguiu salvar sua amada Lois. Então resolve desobedecer seus pais e se volta contra tudo o que aprendeu.
As voltas que Kal-El dar em torno da Terra fazem o tempo retroceder, correr ao contrário. O resultado é que Lois assim consegue se salvar. Mas Kal desobedeceu ordens expressas dos pais para fazer isso; e isso já coloca uma certa dúvida nos sentimentos e nas ações do personagem e até que ponto ele está disposto a obedecer uma ordem paterna, parece-me que, se for em nome de seu amor, Superman julga que pode passar até por cima de acontecimentos e situações já estabelecidas; então é válido alterar o tempo ao mesmo tempo em que se desobedece um ensinamento, por amor? Quando a cena em questão é mostrada, as voltas na Terra por Kal-El são preenchidas com o Tema do Amor. Se aceitarmos isso como válido, temos que aceitar também que a construção do personagem por Donner e Reeves, não é assim tão ortodoxa. Ele é mesmo um tanto quanto abrupto e visceral, sobretudo em se tratando de Lois Lane. Além disso, por que Lois Lane mereceu isso e o pai dele (Jonathan Kent), não?
Outra questão que nos chega é sobre a frieza desse Clark com sua mãe. Ele parte da fazenda sem sequer avisá-la, antes mesmo que a mesma desperte. Quando ela está colocando o café da manhã é que ver o filho já distante no horizonte.
Esse Clark é bastante melancólico como sua mãe kryptoniana afirmou que seria.
Por outro lado, enquanto adulto, não consegue controlar os impulsos passionais, a ponto de agir contra eventos já estabelecidos.
Parece que já havia, antes mesmo de Snyder. algumas áreas cinzentas nesse personagem.