quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

1978-2013: 35 ANOS DA HISTÓRIA MODERNA DE SUPERMAN NOS CINEMAS.



Esse texto será o primeiro de quatro textos focando, cada um deles, um filme do Superman. Nesse primeiro, Superman, o filme, de Richard Donner, de 1978. Os próximos serão: Superman 2, a aventura continua, Superman: O Retorno e O Homem de Aço.
PARTE 1: SUPERMAN, O FILME, DE RICHARD DONNER (1978).
Quando esse filme foi lançado, filmes baseados em super-heróis não eram motivos para grande alarde. Na verdade, as matinês mostravam sempre filmes baseados em personagens de quadrinhos, não sendo invenção de estúdio moderno como alguns podem pensar. Todavia, eram filmes voltados para crianças e que pouco ou nada tinham que pudessem atrair pessoas mais velhas.
Superman foi um personagem criado em 1933 por Jerry Siegel e Joe Shuster e publicado pela primeira vez em Action Comics número 1, da National Periodics (mais tarde chamada de DC Comics). Seu sucesso foi estrondoso e nos anos seguintes invadiria todas as mídias da época: jornais, rádio, tv e cinema.
Mas o que diferenciou o filme de Donner, e fez o público mais atencioso para a sua produção foi uma soma de fatores que antes apenas era direcionado à outros tipos de filmes: primeiro,o investimento, cerca de U$ 55 milhões de dólares, um absurdo para a época, sobretudo se observamos que, em 1989, Burton filmou seu Batman com cerca de U$ 35 milhões de dólares (e já era considerado alto para qualquer gênero de filme); segundo, a escolha de atores, nada mais nada menos do que Gene Hackman e Marlon Brando integravam o elenco, e só a menção desses nomes já era um chamariz extraordinário para o sucesso do filme; terceiro, o cuidado com efeitos especias. É certo que Star Wars já havia aberto caminho nesse ponto, mas esse Superman foi premiado com o Oscar de Melhores Efeitos Especias.
Bem, e a história? Simplesmente é uma das mais cativantes idealizações do Superman em todos os tempos. O jovem Christopher Reeves encarna o Último Filho de Krypton com tanta naturalidade, que seu rosto viria a marcar para sempre a memória de quem falasse ou pensasse no super-herói.
O filme começa mostrando uma edição de Action Comics, numa especie de metalinguagem, o narrador nos fala, enquanto folheia e edição, que a cidade de Metropolis é guardada por um homem que é símbolo da verdade e da justiça, parecendo aquelas matinês infantis. Mas aí, entra uma música, um tema que se tornaria clássico e amado e reconhecido por qualquer um que já tenha assistido ao filme: O Superman Theme de John Williams, com certeza o mais famoso tema de super-herói de todos os tempos e mais conhecido do que os de Star Wars ou Indiana Jones. Ele começa com tremolos nas cordas e então aos poucos vão dando lugar em um crescendo aos metais, chefiados pelos trompetes. A música dura cinco minutos e enquanto isso, os créditos vão passando. Além do Tema do Superman, essa música também contém o Tema do Amor (ou de Lois Lane como queiram), mais suaves nas cordas e um arpeggio rápido nas madeiras, simbolizando a aventura. A música termina com uma fanfarra entoando o Tema do Superman.
Na primeira cena do filme, estamos em Krypton, planeta gélido onde os cidadãos se dividem em castas. Jor-El está diante do Conselho para que julguem, por rebelião, Zod, Ursa e Nom. Os três são condenados à zona fantasma. Na cena seguinte, ainda em Krypton, Jor-El adverte sobre a iminente destruição do planeta. Ninguém acredita. Ele então prepara uma nave que levará seu filho ao espaço. Lara, sua esposa, está desconsolada. Jor-El escolheu a Terra e, nesse planeta, Lara afirma que o filho será um homem ridicularizado e solitário e que viverá repleto de tristezas. Jor-El afirma que ele superará as dificuldades e mostrará aos humanos seu poder, pois o sol amarelo da Terra fortalecerá suas células e seu corpo. O planeta começa a tremer, o sol vermelho de Krypto se aproxima de sua atmosfera. O foguete é lançado e o pequeno Kal-El, esse filho brilhante das estrelas, navega pelo espaço enquanto pedaços da explosão de seu planeta são vistos.
Durante a viagem, Jor-El fala sobre ciência e história da Terra, citando até Einstein, para o pequeno e futuro maior super-herói de todos, mas que agora é apenas um bebê de pouco mais que três anos!
Essas cenas duram algo em torno de 20 minutos e o impacto da nave de Kal-El na Terra é observado pelos Kent que resolvem averiguar do que se trata e acabam encontrando o pequeno deus em sua manjedoura espacial, sorrindo como uma criança, que é, ao ver os pais.
As próximas cenas mostram Clark, nome que recebeu dos pais adotivos, em sua vida cotidiana. Na escola, é menosprezado pelos outros. Realmente ele se sente vazio, solitário e sem lugar entre os humanos. Sua desolação ele compartilha com o pai, Jonathan Kent. Está perdido no mundo e não sabe quem é. Seu pai afirma que deve haver um propósito em sua vinda e que ele deve esperar. Ao ver seu cão, o jovem Clark corre em sua direção e nesse momento, John tem um ataque cardíaco e morre. Durante o enterro, Clark desabafa para a mãe, Marha Kent, que mesmo sendo tão poderoso, não pôde salvar o próprio pai.
Os dias passam e a tristeza e desolação tomam conta da alma de Clark. Numa manhã, sem avisar a mãe, parti da fazenda. Quando Martha está pondo o café da manhã, nota o filho ao longe. A cena é triste. Ela vai em direção ao filho. Pergunta para onde ele vai e diz que isso um dia tinha que acontecer. Ele vai para o Polo Norte. Não é explicado no filme o motivo dele ir para esse local.
No Polo Norte, Clark arremessa uma lasca de minério kryptoniano que havia na fazenda e então, quando o solo absorve o cristal verde, surge uma gigantesca construção, ao estilo de Krypton. Ao entrar, Clark é saudado pelo holograma de Jor-El, que conta-lhe todo a sua origem. Ao término da fala de Jor-El, Clark já surge com a roupa de Superman, mais ou menos aos 47-48 minutos de filme. Ele alça voou enquanto o Tema de Superman ecoa.
Agora estamos em Metropolis, onde o pacato e tímido Clark Kent foi em busca de emprego no Planeta Diário. Graças à simpatia que Perry White, editor do jornal sente por ele, consegue o trabalho. Em seu primeiro dia de trabalho, Clark faz amizade com Lois e sai com ela. No caminho sofrem uma tentativa de assalto, que é frustrada por... Lois Lane, que consegue botar o meliante para correr. Este, porém, atira em direção a Lois, mas Clark fica no meio e consegue pegar a bala (numa cena que seria rememorada por Alan Moore em Watchmen # 12, 1987). Lois pergunta como ele fez isso. Clark diz que tem reflexos muito bons e que o assaltante nem iria ficar feliz com a bolsa de Lois, pois dentro só tem 10 dólares e maquiagem. Lois se assombra pois é exatamente o que há na bolsa dela...
Um homem é seguido por detetives. Trata-se de Otis, capanga de Lex Luthor. Este personagem foi criado especialmente para o filme, mas já apareceu nos quadrinhos. Nos Novos 52, foi morto por Bizarro a mando de Luthor em Vilania Eterna. Através de intrincadas passagens subterrâneas, esse bobo vilão chega ao seu destino. Ao encontrar Luthor este afirma: "Você foi seguido! Felizmente tenho minhas precauções!" Luthor instalou dezenas de câmeras filmadoras ao longo dos subterrâneos da cidade e monitora tudo. Além disso, colocou armadilhas em pontos estratégico. Uma delas faz com o detetive que havia seguido Otis, caia nas linhas do metrô, morrendo atropelado pela máquina. É a primeira morte trágica num filme e super-herói. No covil também está a Senhorita Teschmacher, típica mulher bonita, loira e com uma inteligência demente.
Lex tem um plano audacioso para conquistar o mundo: explodir a costa oeste americana.
Na redação do Planeta, Lois embarca em um helicóptero. Mas esse funciona irregularmente e fica pendendo do alto do Planeta Diário. Eis o primeiro salvamento de Superman para êxtase dos metropolitanos que nunca viram nada igual. As próximas cenas mostram Superman em vários salvamentos e missões: impedindo um assalto ao banco, salvando um gato de uma árvore, e salvando o avião Força Aérea 1, que leva o presidente dos EUA.
Até aqui, a personalidade de nosso super-herói variou bastante.
Primeiramente, ele era um jovem triste que não encontrava lugar no mundo. Também teve sempre que se conter e não usar sua força ou quaisquer de suas habilidades, isso a pedido do próprio pai, embora isso lhe causasse sempre grande humilhação, o que aumentava mais ainda seu desconforto entre as pessoas.
Esse lado introspectivo do personagem é mostrado em Smalville, em meio à chacotas e zombarias de outro rapazes. E de certa forma, esse lado introspectivo de Clark é continuado na timidez do jornalista, que se esconde das pessoas usando óculos, baixando o tom da voz, inclinando um pouco o peito para frente e falando sempre usando interjeições. Reeves é perfeito tanto como Clark quanto como Superman. Embora o jovem Clark seja interpretado por Jeff East, que consegue encontrar as expressões de melancolia e revolta para o personagem. Reeves aparece pela primeira vez quando Clark veste a roupa do Superman, na Fortaleza da Solidão. Clark passou três anos na Fortaleza aprendendo com Jor-El. E ao fim das aulas, Jor-El lhe presenteia com uma roupa kryptoniana, detalhe que John Byrne, em sua reformulação do personagem nos quadrinhos (Man os Steel # 1, 1986) não seguiu, preferindo fazer Superman vestir uma roupa feita com tecido terráqueo costurada por Martha Kent. Outro detalhe que é bom notar é a violência que surge de situações inesperadas, como a morte do detetive. Lex Luthor não está careca. Passa a maior parte do tempo com uma peruca ruiva.
O alvoroço toma conta de Metropolis. Todos querem saber quem é o estranho ser de roupa azul e capa vermelha. Quem consegue a primeira entrevista é Lois Lane. John Byrne nos quadrinhos pós-Crise, brinca com essa ideia fazendo Lois criar um ódio mortal por Clark, pois é justamente o jornalista tímido que publica primeiro uma entrevista com o Superman (Man of Steel # 2, 1986) e assim consegue seu emprego no maior jornal de Metropolis.
Na cena da entrevista entre Lois e Superman, há detalhes inusuais para um filme de super-heróis e que demonstram a preocupação do roteirista e do diretor em fazer algo que fosse entretenimento também para adultos. A entrevista é cheia de duplos sentidos eróticos, bem velados, mas às vezes nem tanto. Como quando Lois pergunta se é verdade que ele pode ver através das coisas. Ele responde que sim. Então Lois pergunta se ele pode ver a calcinha dela e se sim, diga a cor: "rosa". Lois pergunta, como uma típica jornalista (!) "Você gosta de rosa?" e Superman embarca na viagem de Lois: "Adoro rosa!". Mais surreal é o momento em que Lois pergunta o que ele gosta de comer, com uma expressão tal, que nem parece estar se referindo à comida...
Superman leva Lois para voar. A música, já ouvida durante a abertura, é o Tema do Amor.
Após esse momento idílico, recheado pelos pensamentos amorosos de Lois. Estamos no covil de Lex. Este, através de uma frequência especial, chamou Superman para uma conversa. Lex já sabe da fraqueza à kryptonita do super-herói e conseguiu encontrar pedaços do minério alienígena pesquisando em uma enciclopédia (que tempo bom!). Quando Kal-El chega, Lex lhe revela seu plano de conquista mundial e consegue surpreender Superman colocando em seu pescoço uma corrente de kryptonita. Sai, mas deixa a Senhorita Teschmaher na sala.
Esta sente compaixão por Superman, mas diz para ele que apenas tirará a corrente, se ele prometer salvar primeiro a cidade onde mora sua mãe; Luthor acionou dois mísseis nucleares, um em direção à Califórnia (onde se encontram Lois e Jimmy) outro em direção à Nova Jérsei (onde mora a mãe da vilã). Kal questiona a situação: "Mas Lois?" Porém a namorada de Luthor afirma; "Ou minha mãe primeiro ou você morre!" Superman promete de acordo com desejo dela e ela retira a corrente de seu pescoço, porém, antes de retirar, beija a boca de Kal. Este pergunta por que antes de retirar a corrente o beijou. A resposta: "Pois não sabia se você iria deixar depois..."
Superman detém primeiro o míssil de Nova Jérsei. Imediatamente parte para a Califórnia, mas o míssil explode antes. Um terremoto gigantesco assola o estado. Superman invade o subsolo da Terra fazendo as placas tectônicas se acalmarem; graças a sua super força ele segura a placas e impede a propagação do terremoto. Porém, na superfície já houve estragos demais: uma represa ruiu e está no caminho de uma cidade. Superman consegue parar o curso destruidor de água e salva também Jimmy Olsen. Mas não consegue salvar Lois.
Quando a encontra já é tarde. Desconsolado e irado alça voou, enquanto escuta seus pai biológico Jor-El lhe advertir que não interfira no destino do mundo. Ao mesmo tempo em que ouve Jonathan Kent lhe dando conselhos. Mas kal-El está desesperado, pois não conseguiu salvar sua amada Lois. Então resolve desobedecer seus pais e se volta contra tudo o que aprendeu.
As voltas que Kal-El dar em torno da Terra fazem o tempo retroceder, correr ao contrário. O resultado é que Lois assim consegue se salvar. Mas Kal desobedeceu ordens expressas dos pais para fazer isso; e isso já coloca uma certa dúvida nos sentimentos e nas ações do personagem e até que ponto ele está disposto a obedecer uma ordem paterna, parece-me que, se for em nome de seu amor, Superman julga que pode passar até por cima de acontecimentos e situações já estabelecidas; então é válido alterar o tempo ao mesmo tempo em que se desobedece um ensinamento, por amor? Quando a cena em questão é mostrada, as voltas na Terra por Kal-El são preenchidas com o Tema do Amor. Se aceitarmos isso como válido, temos que aceitar também que a construção do personagem por Donner e Reeves, não é assim tão ortodoxa. Ele é mesmo um tanto quanto abrupto e visceral, sobretudo em se tratando de Lois Lane. Além disso, por que Lois Lane mereceu isso e o pai dele (Jonathan Kent), não?
Outra questão que nos chega é sobre a frieza desse Clark com sua mãe. Ele parte da fazenda sem sequer avisá-la, antes mesmo que a mesma desperte. Quando ela está colocando o café da manhã é que ver o filho já distante no horizonte.
Esse Clark é bastante melancólico como sua mãe kryptoniana afirmou que seria.
Por outro lado, enquanto adulto, não consegue controlar os impulsos passionais, a ponto de agir contra eventos já estabelecidos.
Parece que já havia, antes mesmo de Snyder. algumas áreas cinzentas nesse personagem.

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